sábado, 29 de janeiro de 2011

está difícil


Eu tinha um amigo que era fanático por uma cantora. Sempre via ele comprando pôsteres, buscando informações, comprando CDs, baixando músicas, mas nunca entendia o que ele sentia, e me sentia estranha por causa disso. Era um sentimento que na minha vida nunca tinha existido, então não podia compreender tudo aquilo que ele falava, tudo aquilo que ele sentia. Até que conheci uma banda, que mudou tudo isso.
Fui num show deles, conhecendo apenas três músicas. Adorei tudo, e chegando em casa, baixei todas as músicas deles. Ouvindo todos os dias apenas essas músicas, já estava contaminada por um pouco daquele sentimento que eu não entendia. Nada perto do que ele é hoje em dia.
Os dias foram passando, e fui buscando conhecer um pouco mais sobre eles. Até que minha irmã chegou em casa com uma revista deles para mim. Pronto, quis comprar todas as revistas em que eles estavam ali, estampando a capa, dando entrevistas, tirando fotos. Criei redes sociais que não tinha, para ficar mais antenada sobre o que está acontecendo com eles. E o vício está até me fazendo mal.
Agora, que entendo o sentimento, não sei se desejaria novamente ter entendido.
É muito ruim saber que aquelas pessoas que você idolatra, que você faria qualquer coisa para ver, para ouvir, para tocar, não sabem da sua existência. O pior de tudo, é saber dessa realidade, saber que você não vai ver eles, que eles não vão te beijar, não vão te conhecer, não vão ter o sentimento por você assim como você tem por eles, e não conseguir deixar de amá-los, de desejá-los.
As pessoas que não gostam me julgam, dizem que estou exagerando, que a banda é ruim, que não acreditam que eu gosto dela. Mas fã é aquele que não se importa com a opinião dos outros, é aquele que segue em busca do seu sonho, não importando o que os outros pensam de você. Então para aqueles que me julgam por eu gostar, podem deixar de falar comigo, me achar ridícula, fazer o que quiser. Não me importo.
O vício aumenta a cada música, cada entrevista, cada programa. Está difícil de largar. Está difícil. Muito difícil.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

final feliz


Eu finalmente havia conseguido arrumar um emprego na minha área, depois de dois anos e meio procurando um. Eu havia sido uma aluna mediana, mas atualmente empregos não eram a coisa mais fácil de se conseguir. Estava ansiosa para começar logo, e esperava que tudo desse certo. Que chegasse na hora, que o meu chefe gostasse de mim e do meu desempenho.
O que aconteceu, infelizmente, foi o contrário. Pra começar, eu acordei vinte minutos atrasada, e por isso tive que ir tomando café-da-manhã no caminho, assim teria tempo pelo menos de me arrumar, afinal, a primeira impressão é a que fica. Vesti minha melhor roupa, mas a chuva lá fora me deixou enxarcada e meu penteado desarrumado. A minha sorte é que tinha um táxi parado no sinal, em frente a mim. Abri a porta, sentei, e disse ao motorista o endereço. O homem olhou para mim, e não se moveu.
-Moço, rápido, eu estou com pressa. Muita pressa. - Repeti o endereço, mas ele não andava. Só o que ele fazia era olhar com os olhos espantados para mim.
Foi ai que me dei conta de que o carro não tinha taxímetro, ou seja, eu havia entrado em um carro amarelo, mas que não era um táxi. Com razão o moço havia perdido a fala e estava assustado. Saí do carro, e pedi desculpas.
Eu já estava atrasada, ainda tinha que conseguir chamar um táxi, minha roupa toda molhada, o cabelo bagunçado e um café na mão.
Ao chegar no escritório, uma mulher bem vestida pediu que eu a acompanhasse. Levou-me até uma sala, que parecia ser a do meu chefe.
- Ele já vem - disse ela, me deixando ali sozinha.
Começei a mexer em alguns porta-retratos que tinham ali, quando ele entrou.
-Lesly é seu nome, certo?
-Não, é Linda.
-Muito engraçada. Bom, Lesly, aqui em nossa empresa não permitimos atrasos, muito menos no primeiro dia. Não preciso nem dizer que está demitida né? Quer dizer, existe uma palavra que defina demitir alguém que não contratou ainda?
Ele saiu da sala, rindo como se tivesse feito uma piada das mais engraçadas. Sai da sala arrasada. Desci, e entrei em uma padaria para tomar algo, afinal, com toda a correria eu não tinha conseguido tomar um bom café-da-manhã.
Ao meu lado, no balcão, sentou um homem que falava ao celular.
-Eu sei, eu estou procurando alguém para o cargo, mas está difícil encontrar alguém com competência.
Quando ele desligou, virou para mim e ficou me encarando. É, de fato eu estava parecendo uma maluca. Cabelo em pé, molhada, com olheiras.
-Dia ruim?
-Péssimo. E o seu?
-Também. Não consigo arrumar alguém para trabalhar no escritório do meu chefe.
Converamos durante um tempo, e no dia seguinte eu teria novamente um primeiro dia, mas dessa vez, eu coloquei o alarme para duas horas antes, guarda-chuva perto da porta e deixei um táxi marcado.
É, o segundo primeiro dia teve um final feliz. E não só pra mim.

a menina da maquiagem


Eu não acreditei quando vi o nome dos participantes selecionados. Eu sempre tive o desejo de participar de um reality show, e apareceu a oportunidade de participar desse, que não era bem o meu ideal, mas eu iria tentar. E ali estava o meu nome, entre os 12 nomes de todos os selecionados. No meio do país inteiro, eu fui escolhida. Ok, eu teria que provar minha resistência, força, comer coisas nojentas, passar por diversas provas, mas eu iria encarar.
Entramos na casa, e no primeiro dia, todos estavam amigos, se divertindo, e comemorando, o que não se manteve ao longo do programa.
Eu sempre fui muito vaidosa, me importo com as roupas que uso, e gosto de usar maquiagem. Ali não seria diferente. Não é porque seria um programa mais radical, que não iria me cuidar e me importar com minha beleza. A prova podia ser na piscina ou de escalada, que eu passava minha maquiagem. Isso fez com que as pessoas passassem a não acreditar no meu potencial. Eles me encaravam como uma menina mimada, que havia caido ali de para-quedas, que estava no lugar errado.
"Eu sou forte e eu não quero ser nada além de mim. Eu posso parecer frágil por fora, mas por dentro eu não sou." Era isso que eu pensava nos momentos de fraqueza, afinal, viver numa casa com pessoas onde nenhuma acredita em seu potencial traz um pouco de vontade de desistir, um desânimo. Mas eu não deixaria isso me abalar. Era um sonho meu que eu estava realizando, eu não devia satisfação pra ninguém. Esse era meu jeito, e eu era uma concorrente mais forte do que muitos ali dentro.
As semanas foram passando, e meu desempenho era sempre um dos melhores. Os outros participantes não acreditavam quando eu ficava em primeiro, e por isso ganhava imunidade. Não acreditavam quando disputavam comigo e perdiam. Mas, como eu havia dito, era para eles terem cuidado comigo.
É, ninguém me escutou, não se preocuparam comigo, e eu, na minha, fui conquistando meu espaço. Cada vez com mais garra, mais vontade e mais confiança, consegui superar todos os meus limites. Não venci, fiquei em segundo, resultado que impressionou muita gente. Mas para mim, eu sou a maior vencedora.
(50ª edição musical - Projeto Bloínquês - 4° lugar)

para meu melhor amigo

Estou lhe escrevendo no meu anivesário de 12 anos, porque bateu uma saudade imensa de você. Eu lembro que nunca fui de ter muitos amigos na escola, nem no prédio. Mas eu tinha você, sempre. Era pra você que eu contava tudo da minha vida. Se estava triste, queria ficar com você. Se estava feliz, também. Eu amava, quer dizer, eu amo muito você. Eu me lembro que todo mundo me encarava quando eu conversava com você em público. Não sei, parece que eles não estavam te vendo. Acho que só quem podia te ver era quem te amava, ou seja, apenas eu.
Eu não te disse isso, porque fiquei com medo que você ficasse triste, mas uma vez escutei a mamãe conversando com
umas amigas e elas diziam que eu era louco, que eu tinha um amigo imáginario, que eu tinha que ir num psicólogo. Elas diziam que você era coisa da minha cabeça, mas não é, certo?
Até hoje, um ano após você ter partido, eu não entendo porque você se foi. Eu lembro direitinho do dia da sua partida. Mamãe chegou no quarto, e disse que eu estava ficando mais velho, que você teria que ser amigo de outras pessoas, e que você havia viajado a procura de alguém tão legal quanto eu. Eu chorei muito, e não quis sair do quarto até o dia seguinte. Não comi também. Eu cresci, e entendo que você tenha que ser o melhor amigo de outra pessoa, assim como foi meu. Outras pessoas merecem ter você ao lado delas, assim como eu tive.
Só queria escrever isso pra você, para dizer que estou com saudades de você, das nossas brincadeiras, das nossas conversas. Eu te amo muito, e quando a mamãe te entregar essa carta, que ela disse que vai te entregar ainda hoje, vê se lê logo e me mande uma resposta.
Beijao, Billy.

(25ª edição cartas: amigo imaginário - Projeto Bloinquês - 2º lugar :Nota: 10 – 10 – 9,9 =9,96)

rápida mudança


Eu sempre fui muito rica. Desde que nasci, vivia no meio de gente rica, e só sabia viver assim. Costumava frequentar os restaurantes mais caros da cidade, mesmo que não fossem tão bons quanto as carroçinhas de cachorro-quente que ficavam nas ruas. Comprava apenas em lojas de grife. Toda semana fazia compras. Dava as melhores festas do bairro, com as melhores bebidas e comidas. Enfim; eu estava acostumada a viver no luxo. Meus pais moravam na Inglaterra, e sempre me mandavam dinheiro pelo correio. Ou seja, eu morava sozinha, e tinha toda aquela fortuna para gastar. Aconteceu que um dia, recebi uma carta do advogado deles, que dizia que meus pais haviam falecido em um tragico incêndio, e que toda aquela fortuna havia se perdido com as chamas que haviam matado meus pais, a única família que eu tinha. Naquele momento, eu nem me importei em não ter mais eles, afinal, eu não os tinha ao meu lado. Eu fiquei preocupada foi com o dinheiro. O que eu faria sem ele? Eu não tinha emprego, e não iria estudar. Não mesmo. Para me sustentar, eu teria que vender minha casa? Meu carro? Eu não ia poder frequentar os lugares que antes eu ia? O que seria de mim agora, sem o dinheiro? As pessoas não podiam saber disso. Isso eu não deixaria de jeito nenhum. Eu teria que providenciar um novo apartamento, menor, e menos luxuoso, mas como faria isso sem que as pessoas percebessem que eu estava de mudança? Resolvi então gastar o pocuo dinheiro que havia me restado, e comprei papéis de embrulho. Rosa, lógico. Com os papéis, embrulhei todos os meus pertences, e assim as pessoas achariam que eu estava fazendo compras, que havia chegado de viagem, ou algo do gênero. Nunca imaginariam que ali, naqueles embrulhos estavam minhas roupas, meus perfumes, meus sapatos, e que eu estava me mudando. Ninguém imaginaria o que havia acontecido comigo. E o plano deu certo. Por onde eu passava, as pessoas olhavam para mim, com aquele olhar de inveja. De curiosidade, de desejo. Cheguei no meu novo apartamento, e pedi que o porteiro me ajudasse.
-Madame, quanto presente! - ele disse. Dei-lhe um sorriso falso, e subi.
Ele levou tudo lá pra cima, e as coisas mal couberam dentro da minha nova casa.
Quando finalmente eu pude deitar e descansar, começei a refletir sobre tudo isso. Estava arrasada. Aquela cama não era a minha cama. Eu queria minha vida de volta.
Demorei muito tempo para consgeuir levantar da cama e sair na rua. Parecia que todos iriam me olhar, e perceber que eu não era mais aquela menina rica de antes. Eu sentia que meus amigos não iam mais querer sair comigo, não iam mais estar do meu lado. Peguei o telefone, e liguei para Nina, minha melhor amiga.
-Nina, então, quer vir aqui em casa hoje?
-Claro, que horas amiga?
-Agora... Mas escuta, eu me mudei. Meus pais morreram e perderam toda a fortuna num incêndio, então eu estou em um apartamento menorzinho.
-Hm, amiga, acabei de lembrar que eu tenho manicure hoje. Amanhã nos falamos.
É, acho que eu estava certa. Mas aquilo ali me tocou muito. Será que eu não tinha amigos de verdade? Será que as pessoas só falavam comigo para usufruir do que eu tinha? Liguei para Rob, meu namorado. Ele foi o mesmo de sempre, mesmo depois de eu ter lhe contado tudo. Dez minutos depois, ele estava ali, tocando a campainha da minha nova casa. Abraçou-me e disse que me amava. Que não amava meu dinheiro, e sim a pes
soa que eu era.
Eu demorei mais um tempo para aceitar toda aquela nova vida. Passei um ano sem trabalhar, mas saia pela cidade, para ver rostos novos, pegar ar fresco. Quando o dinheiro da casa começou a acabar, procurei um emprego, e começei a trabalhar, coisa que nunca imaginei que eu teria que fazer. Fiz uns amigos no trabalho, e então me matriculei em uma faculdade. Eu estava recomeçando a minha vida, de uma maneira bem melhor, onde os valores eram totalmente diferente.

(50ª edição visual - Projeto Bloínquês - 2° Lugar: Nota: 9.6)

mãe?


Mamãe sempre foi uma executiva muito ocupada. A sua rotina era a mesma, desde que eu me lembro. Ela acordava, tomava uma xícara de café enquanto lia o jornal, se arrumava com seus terninhos, prendia um coque na cabeça, e ia trabalhar. Só voltava tarde, quando eu já estava indo dormir. Eu a admirava muito. Dizia que quando eu fosse maior, ia querer ser que nem ela. Quando ela não estava em casa, ia no seu quarto, pegava algumas roupas, alguns sapatos e ficava brincando de executiva. Se bem que eu não sabia muito bem o que era ser, de fato uma. Eu ficava apenas dando ordens para leo e jonh, meus bichinhos de pelúcia. Às vezes dava ordem para minhas barbies também. A questão é que conforme eu ia crescendo, menos minha mãe ficava presente em minha vida. E aquela graça, de ver minha mãe saindo cedo todas as manhãs e voltando tarde todas as noites, estava se perdendo. Eu estava sentindo falta dela. De uma mãe. De alguém para contar sobre meus romances. Sobre minha primeira menstruação. Sobre tpm. De uma mãe para fazer compras comigo, me levar ao salão de beleza. De uma mãe presente, coisa que toda menina precisa, principalmente na adolescência. O tempo foi passando, e eu tive, finalmente coragem de ir falar com ela. Tentar resolver tudo. Entrei em seu quarto, numa noite em que ela havia chegado mais cedo. Achei que estaria vendo televisão, ou descansando. Mas não. Estava ela, no computador e no telefone, trabalhando. Quase desisti, mas veio em minha mente o dia em que eu dei meu primeiro beijo, e quando fui contar para ela, ela pouco se importou, já que estava fazendo relatórios e dando telefonemas. -Mãe, eu queria conversar com você. Será que dá pra ser agora? -Um minutinho filha, estou trabalhando. Sentei em sua cama, e dali só sairia depois de desabafar tudo. -Sabe mãe, quando eu era menor, eu adorava ver você nessas roupas, trabalhando muito. Até queria ser igual. Mas eu cresci, e preciso de uma mãe. Disse tudo que estava preso dentro de mim. Até que reparei que ela estava olhando para mim. Será que eu havia conseguido, finalmente, sua atenção? -Eu te amo mãe, e preciso de você. - eu disse, e sai do quarto. Segui para a sala, e liguei a televisão. Será que ela iria mudar? Será que finalmente iria perceber que tinha uma filha? Algumas lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, e de repente, ela apareceu ali.
-Eu não esperava te ver aqui tão cedo. Quer conversar, mãe? - disse eu, limpando as lágrimas, e estampando um sorriso imenso em meu rosto.
-Margarett! Você viu onde deixei minha bolsa? Não estou a encontrando e preciso dela agora.- ela berrou. Margarett era a moça que trabalhava lá em casa.
Margarett chegou correndo na sala, com a bolsa de minha mãe nas mãos. Ambas deixaram o cômodo, sem nem falar uma palavra comigo. Elas me deixaram ali, sozinha, decepcionada.
É, acho que minha mãe não escutou uma única palavra que eu disse. Acho que terei que me contentar em contar sobre meus problemas amorosos para o meu pai, que pelo menos se interessa em me escutar.

(48ª edição conto/história - Projeto Bloínquês - 4° lugar)