quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Pincéis (secreto)


Pego o pincél dourado e pinto a areia,
Pego o pincél prateado e pinto a seria,
Pego o pincél azul e pinto o mar,
Pego o pincél vermelho e te ensino a amar.

Pinto com o pincél verde a natureza,
Pinto com o pincél branco a paz,

Pinto com o pincél rosa as flores,

Você não sabe a alegria que pintar me traz.


Ra e David Avigdor Madmoun

domingo, 24 de janeiro de 2010

formigas


vejo a pobreza que existe nas ruas do meu país, a corrupção, a desigualdade, a injustiça. Sinto-me como uma formiga querendo ajudar todas as formigas do mundo. Me sinto incapaz de fazer uma única melhora para a minha sociedade, já que uma mínima atitude minha, é pouco se comparado ao meu objetivo. Quero fazer muito, mas com o tempo que tenho de vida, é como se estivesse numa missão impossível. Fico inconformada olhando ao meu redor.
Há formigas tão fracas, que mal conseguem buscar alimento, enquanto há outras vivendo na fartura. Há formigas sem casa, enquanto outras têm um formigueiro quente e aconchegante. Há formigas que trabalham o dia todo buscando alimento para sua família, mas formigas maiores, com mais poder, chegam, e pegam todo o fruto de seu trabalho. Enquanto isso, a única coisa que eu posso fazer, é montar um formigueiro para a minha família e buscar alimento para a mesma. Isso, eu sei que se me esforçar, sou capaz, mas e as outras formigas, largadas, famintas e desabrigadas, que não tem uma família para protegerem-nas?

O pouco que fazemos; um único alimento que damos para uma formiga faminta, já é o suficiente, para que o avanço e a melhora comecem.
Espero que esse meu objetivo não esteja apenas nos meus sonhos, e sim num grupo grande de formigas, para que assim, juntas, nós tornemos uma missão impossível, em uma quase impossível, e até mesmo, num futuro, espero eu, não tão distante, numa missão possível.

canetas


Sempre tive uma paixão louca por canetas. Cada vez que uma falhava, era como se um amigo querido tivesse ido morar longe de mim. Uma dor, que nem eu sabia explicar. Tenho mais de mil delas em meus estojos. Adoro desenhar, e principalmente escrever com elas. Era conhecida por sempre mandar as cartas mais lindas e originais para as pessoas. Afinal, tinha prazer em fazê-las, já que as escrevia com minhas canetas.
Minha amiga ia se casar, e eu precisava de uma caneta prata para isso. Iria escrever o cartão mais lindo para ela, afinal, ela merecia. Eu era a madrinha do casamento, e estava cheia de coisas para organizar. Faltavam apenas dois meses para a data, e eu tinha que verificar flores, bolo, doces, dj e vestidos. Com medo que não desse tempo de comprar a caneta, fui numa papelaria próxima a minha casa e comprei um estojo de vinte e quatro canetas, que me deixou maravilhada. Tinha uma prata, na ponta do estojo, com um brilho desigual. Pronto! Na data, já teria a caneta, e então poderia lhe escrever o cartão. Coloquei o estojo na minha gaveta, e ele ficou lá até a véspera do casamento. Durtante esses dois meses, não deixei ninguém encostar nessas canetas. Elas tinham que estar funcionando para o cartão da noiva.
Já havia resolvido tudo. O salão já estava sendo arrumado, o vestido da noiva já estava em sua casa, o bolo, era exatamente como ela havia sonhado. Estava tudo indo como o planejado. Faltava apenas um dia, e resolvi escrever, finalmente seu cartão.
-Ela me deixou trancada aqui durante dois meses! Que tipo de pessoa ela é? - disse a caneta prata para a dourada - Não vou funcionar, para ela ver o que é bom!
-Não faça isso! Ela esta sonhando com esse cartão... Escreva, e a faça feliz! - disse a caneta dourada.
Peguei o estojo, muito ansiosa. Parecia até que eu era a noiva e estava prestes a dizer o sim! Olhei para a prata, e a peguei. Abri sua tampa, já tinha todo o texto em minha mente. Quando ia escrever Julie, a caneta não funcionou. Fiquei muito triste, pois queria escrever com aquela caneta, que tinha um brilho que nenhuma das minhas outras canetas pratas tinha. Mas o que eu poderia fazer? Só me restava pegar um dos meus outros estojos, e escrever mesmo assim. Coloquei o outro estojo sobre a mesa, e peguei a caneta. Escrevi um cartão com um texto bastante inovado e o cartão estava pronto. Estava lindo, mas estava decepcionada pois tinha a certeza de que ficaria melhor com a outra caneta. Prendi o cartão no presente, e fui me deitar.
O casamento havia sido maravilhoso, todos estavam muito felizes e animados. Julie me agradeceu por tudo, mas principalmente pelo cartão, que ela disse ter sido o cartão mais bonito que ela já havia recebido. Fiquei satisfeita.
Algum tempo depois, minha sobrinha foi a minha casa, e pediu para usar aquele estojo, com aquela caneta prata que tinha aquele brilho incrível. Disse a ela que a prata não estava funcionando, mas ela pouco se importou. Estava fazendo um desenho lindo, com aquela caneta prata. Ela me mostrou o desenho, esperando pela minha aprovação, mas só o que eu pude fazer, foi sentar, e ficar de boca aberta. Sem reação.

sábado, 23 de janeiro de 2010

torta de limão


Uma vez viajei aos Estados Unidos, e comi um bolo com uma calda, que ficou na minha memória pra sempre. Faltava 9 meses para meu aniversário, mas eu estava decidida a usar aquela calda fascinante e deliciosa em meu bolo. Já que adoro cozinhar, eu mesma a colocaria entre um bolo de chocolate, e um de baunilha. Queria fazer o melhor bolo que todos já haviam comido em suas vidas, e com certeza aquela calda seria definitiva para que eu obtesse esse resultado. Entrei em dez supermercados e três padarias, mas foi só na quarta que encontrei a calda novamente. Olhei a validade, ansiando para que até meu aniversário a calda estivesse boa ainda. Consegui! A calda vencia em apenas um ano. Já estava sonhando com o meu bolo.
Cheguei em casa tão animada, que mesmo faltando tanto tempo para a festa, já estava procurando receitas e ingredientes.

Faltando um dia para a celebração, peguei os ovos, leite, fermeto, chocolate, e todos os outros ingredientes. Bati-os conforme a receita mandava, e os coloquei no forno. Já com os bolos prontos, só era preciso desenformá-los e colocar um sobre o outro, com a calda entre os dois. Deixe para fazer isso de manhã. Já era tarde e eu precisava acordar bem disposta. Deitei-me, mas mal conseguia dormi, de tanto que minha barriga roncava. Só conseguia pensar no bolo.
Na manhã do dia seguinte, do dia do meu aniversário, acordei com uma cesta de café maravilhosa, com pães, frutas, geléias, queijos, chocolates e bolos. Olhando para os bolos da cesta, me animei mais ainda para colocar a perfeição de calda na minha receita. Tomei meu café e pedi para que todos saissem da cozinha. Queria fazer com que o bolo fosse uma surpresa para todos. Queria que todos se deliciassem apenas na hora da festa. Queria que todos amassem o bolo com a calda; a tal calda com a qual eu havia sonhado durante todos esses nove meses.
Finalmente chegou a hora de eu colocá-la sobre o bolo. Abri a tampa, e quando fui derramá-la, ela havia endurecido, estragado. Olhei novamente a validade, a qual dizia durar por ainda mais 5 meses. Sentei-me no chão, revoltada. Fui traída e não havia nada que eu pudesse fazer, afinal, a loja era no exterior. Não tinha reação. Desabei em lágrimas. Agora o meu bolo não seria lembrado por ninguém, pois seria um bolo comum, como o que tinha em todas as festas que meus convidados frequentavam. Eu havia sido abandonada. Era assim que eu me sentia. A coisa pela qual ansiei durante nove meses, não ia poder acontecer. Parei de chorar após alguns minutos. "Não vou ficar me lamentando por isso. Não vão lembrar do meu bolo, mas farei uma torta de limão, a qual todos dizem ser imbatível" - pensei. Não sei de onde veio essa força, de levantar, e fazer a melhor torta de limão que eu mesma já havia experimentado.
A única coisa que sei, foi que consegui me erguer, e fazer não o meu bolo, mas a torta do meu aniversário, ficar na memória de todos que puderam provar um mínimo pedaço daquele doce maravilhoso.

Hoje tenho uma padaria que vende pães, doces, bolos e tortas. O doce mais pedido é a minha torta de limão. A mesma que eu havia feito há alguns anos atrás, no meu aniversário.

fascinante construção



Antes, ficava só na vontade. No desejo. Sempre dizia que começaria a escrever meus textos, mas nunca começava de fato. Até que coloquei meu "plano" em ação.
A planta das ideias começa a ser analisada e executada. A construção, a grande construção, é o texto, já finalizado e postado, esperando por sua aprovação.
No primeiro momento, o que importa pra você é desenhar. Desenha o hall e a entrada. O jardim e os corredores. Pronto; a base da planta está pronta. Agora é preciso pensar nas cores, nos detalhes e enfeites. É ai que fica difícil. Só o que você sabe, é que no final do dia você quer ter a planta de pelo menos um prédio ou apartamento pronta e aprovada. Talvez essa ansiedade atrapalhe na hora de pensar como fazer, e ficar satisfeita no final. Mas a sua vontade é tão grande, que você começa a mentalizar diversas ideias, e não para; até que aquela lâmpada brilhe em seu cérebro. Depois disso, o processo é tão rápido, que você nem sente, e quando vai ver; a planta está finalizada, pronta para ser enviada ao arquiteto que comandará a reforma desse belíssimo condomínio.
É muito satisfatório ver, no final de tudo, o prédio todo pronto, com os apartamentos todos desenhados por você, e seus moradores satisfeitos, dizendo que estão vivendo na casa e prédio dos seus sonhos.
Apesar da dificuldade de encontrar ideias e inovações para aquele simples papel se tornar uma simples planta, e mais tarde uma fascinante construção, é maravilhoso a recompensa no final de tudo.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

agulha no palheiro


Eu vivia no meio de palha, achando que estava numa caixa de costura.
Todos os fiapos de palha diziam que me amavam, que eu não podia deixar eles, que eu era muito importante para aquele palheiro. Confiei, e cada vez me decepcionava mais. Sempre que aparecia a oportunidade de um daqueles fios abandonar aquele palheiro e ir para um melhor, ele ia, abandonando todos os outros, e principalmente; me abandonando.
Estava me sentindo sozinha, sem ninguém para confiar. Sem ningúem para poder dizer de que fio de palha eu estava gostando, dos meus problemas de "desfiamento", ou mesmo contar o que eu havia visto naquela enorme fazenda na qual nosso palheiro estava. Todas as máscaras haviam, caido. Todos que eu pensei que eram agulhas, que levam a linha(no caso eu) para onde vão, mostraram ser verdadeiros fios de palha, que estavam disposto a qualquer coisa, até mesmo a abandonar aqueles que diziam que amavam, em busca de oportunidades melhores, mesmo que esta fosse longe de mim.
Eu já estava desistido de procurar, até que eu conheci um fio que disse-me a mesma coisa que todos já haviam dito para mim. Ignorei, pois achei que aquelas palavras seriam em vão, assim como todas as outras tinham sido.
Num dia chuvoso, veio a oportunidade de esse fio ir para uma fazenda onde ele ficaria num lugar coberto, não precisaria ficar pegando chuva e ficar doente, espirrando o dia todo. Como sempre acaontecera comigo, tinha a certeza de que ele iria, não perderia essa oportunidade única. Virei de costas, e comecei a chorar. De repente, senti um fiapo sobre meus ombros, e uma voz acolhedora, que eu reconhecia. Era ele, aquele fio que disse que estaria sempre comigo, nunca me abandonaria. Suas palavras haviam sido verdadeiras. Pela primeira vez tive o sentimento do que era a amizade e a verdade. Encontrei, finalmente a agulha, que havia me escolhido para ser sua linha.
Foi difícil, mas eu consgeui encontrar uma única agulha, num grande palheiro.





Dedicado à minha eterna agulha

futuro


Quando somos crianças, temos medo de monstros debaixo da cama. De fantasmas que podem entrar pela janela. De escuro. Me sinto como uma criança, com janelas abertas, no escuro, deitada em sua cama, debaixo do cobertor, desejando que a noite passe logo, e que o dia chegue, e seja longo, para que a noite seguinte demore a chegar.
Tenho que tomar decisões importantes, que mudarão a minha vida para sempre, mas não sei nem por onde começar. Quando penso em uma opção, alguém me diz que não é a minha cara, que não levo jeito. Ai eu penso em outra, mas não é o que eu quero. E eu só tenho um ano para decidir isso.
Eu sei que a vida é feita de escolhas. O problema é que essa é uma das escolhas mais importantes na vida. O meu medo, não é apenas de não saber o que escolher; é de escolher a coisa errada também.
Pedir ajuda, pesquisar e conhecer. Estudar. É só o que posso fazer e isso me deixa mais tensa. Isso não me diz se eu farei a esolha certa. Queria poder ver o futuro, e ter a certeza de que estarei bem, que terei tomado a melhor decisão; mas já que não posso, fecharei a janela, acenderei uma luminária, e chamarei o meu irmão pra dar um chute no monstro que aguardava qualquer momento para pegar meu pé. Dormirei, sonharei, e estarei pronta para enfrentar a próxima noite, da mesma maneira que passei por essa. Cada dia meu medo vai diminuir, e aos poucos eu consiguirei dormir de janela aberta, no escuro, e eu mesmo darei um chute no monstro da minha cama!

semente


Achava que finalmente tinha encontrado o bosque perfeito, com árvores grandes, com suas folhas verdes, seus troncos fortes. Flores de todas as cores , cobrindo todo o lugar em que meus pés tocavam o chão. O ar tão puro, que me dava alegria apenas em respirar. Ansiava para minhas férias, na qual finalmente eu poderia frequentar esse lugar mágico, apreciar, descansar, respirar, e mais do que isso, olhar, e ficar feliz, muito feliz, por eu ter encontrado o que havia procurado minha vida inteira, e nunca encontrado.
Finalmente minhas férias chegaram, e eu poderia aproveitar cada flor, cada árvore, cada folha, que nasceu sem ao menos eu plantar. Não tive que passar por aquele momento de colocar uma semente, e esperar até que o caule começasse a aparecer. Eu ganhei tudo do nada. Não precisei ter esse trabalho. Pelo menos eu achava que tinha de fato ganhado. Como eu disse, as férias chegaram, e conforme ela foi passando, eu fui vendo que aquilo tudo era uma miragem, um sonho não realizado. Aquele lugar mágico não existia. Claro! Não poderia existir um lugar tão perfeito, se eu nem tinha tocado em um regador.
As coisas não podem acontecer assim, do nada. É preciso colocar a semente, regar durante dias, e esperar que o caule dê algum sinal de vida. Eu posso dizer, que me lembro de ter feito isso umas duas vezes, e essas duas vezes me mostram que se você trabalha no que você quer, você consegue. Eu tenho algumas rosas que crescem e ficam mais lindas a cada dia que passa. Com algumas sementes, e algum trabalho, eu tenho as rosas que qualquer um gostaria de ter.
Essas rosas, estão no centro de um terreno vazio, mas que é muito fértil. Já comprei meu regador, enxada, adubo e principalmente, sementes.


duas metades


É como se eu tivesse uma barra de chocolate inteira, com meu sabor preferido, com uma embalagem linda, com um cheiro delicioso, e de repente, essa embalagem foi jogada fora, o cheiro foi se perdendo, o sabor mudou. A barra se partiu ao meio. Você via isso acontecendo e desejava logo esse acontecimento, mas não sabia que quando acontecesse seria tão ruim quanto está sendo. A vida nos reserva, acredito eu, o que é melhor para nós, e eu espero que essa separação da barra de chocolate, essa mudança de gosto e cheiro, seja o melhor.
O que me resta agora, é fazer de tudo para que cada metade adquira um novo gosto e um novo cheiro, que me deixe tão feliz quanto a barra completa me deixava. É fazer com que o viciado naquele único sabor de chocolate, sinta outros gostos, e aumente seu interesse nesse doce.