terça-feira, 4 de janeiro de 2011

rápida mudança


Eu sempre fui muito rica. Desde que nasci, vivia no meio de gente rica, e só sabia viver assim. Costumava frequentar os restaurantes mais caros da cidade, mesmo que não fossem tão bons quanto as carroçinhas de cachorro-quente que ficavam nas ruas. Comprava apenas em lojas de grife. Toda semana fazia compras. Dava as melhores festas do bairro, com as melhores bebidas e comidas. Enfim; eu estava acostumada a viver no luxo. Meus pais moravam na Inglaterra, e sempre me mandavam dinheiro pelo correio. Ou seja, eu morava sozinha, e tinha toda aquela fortuna para gastar. Aconteceu que um dia, recebi uma carta do advogado deles, que dizia que meus pais haviam falecido em um tragico incêndio, e que toda aquela fortuna havia se perdido com as chamas que haviam matado meus pais, a única família que eu tinha. Naquele momento, eu nem me importei em não ter mais eles, afinal, eu não os tinha ao meu lado. Eu fiquei preocupada foi com o dinheiro. O que eu faria sem ele? Eu não tinha emprego, e não iria estudar. Não mesmo. Para me sustentar, eu teria que vender minha casa? Meu carro? Eu não ia poder frequentar os lugares que antes eu ia? O que seria de mim agora, sem o dinheiro? As pessoas não podiam saber disso. Isso eu não deixaria de jeito nenhum. Eu teria que providenciar um novo apartamento, menor, e menos luxuoso, mas como faria isso sem que as pessoas percebessem que eu estava de mudança? Resolvi então gastar o pocuo dinheiro que havia me restado, e comprei papéis de embrulho. Rosa, lógico. Com os papéis, embrulhei todos os meus pertences, e assim as pessoas achariam que eu estava fazendo compras, que havia chegado de viagem, ou algo do gênero. Nunca imaginariam que ali, naqueles embrulhos estavam minhas roupas, meus perfumes, meus sapatos, e que eu estava me mudando. Ninguém imaginaria o que havia acontecido comigo. E o plano deu certo. Por onde eu passava, as pessoas olhavam para mim, com aquele olhar de inveja. De curiosidade, de desejo. Cheguei no meu novo apartamento, e pedi que o porteiro me ajudasse.
-Madame, quanto presente! - ele disse. Dei-lhe um sorriso falso, e subi.
Ele levou tudo lá pra cima, e as coisas mal couberam dentro da minha nova casa.
Quando finalmente eu pude deitar e descansar, começei a refletir sobre tudo isso. Estava arrasada. Aquela cama não era a minha cama. Eu queria minha vida de volta.
Demorei muito tempo para consgeuir levantar da cama e sair na rua. Parecia que todos iriam me olhar, e perceber que eu não era mais aquela menina rica de antes. Eu sentia que meus amigos não iam mais querer sair comigo, não iam mais estar do meu lado. Peguei o telefone, e liguei para Nina, minha melhor amiga.
-Nina, então, quer vir aqui em casa hoje?
-Claro, que horas amiga?
-Agora... Mas escuta, eu me mudei. Meus pais morreram e perderam toda a fortuna num incêndio, então eu estou em um apartamento menorzinho.
-Hm, amiga, acabei de lembrar que eu tenho manicure hoje. Amanhã nos falamos.
É, acho que eu estava certa. Mas aquilo ali me tocou muito. Será que eu não tinha amigos de verdade? Será que as pessoas só falavam comigo para usufruir do que eu tinha? Liguei para Rob, meu namorado. Ele foi o mesmo de sempre, mesmo depois de eu ter lhe contado tudo. Dez minutos depois, ele estava ali, tocando a campainha da minha nova casa. Abraçou-me e disse que me amava. Que não amava meu dinheiro, e sim a pes
soa que eu era.
Eu demorei mais um tempo para aceitar toda aquela nova vida. Passei um ano sem trabalhar, mas saia pela cidade, para ver rostos novos, pegar ar fresco. Quando o dinheiro da casa começou a acabar, procurei um emprego, e começei a trabalhar, coisa que nunca imaginei que eu teria que fazer. Fiz uns amigos no trabalho, e então me matriculei em uma faculdade. Eu estava recomeçando a minha vida, de uma maneira bem melhor, onde os valores eram totalmente diferente.

(50ª edição visual - Projeto Bloínquês - 2° Lugar: Nota: 9.6)

Um comentário:

  1. Nossa, eu amei! Passa uma mensagem ótima a todos. Pois a maioria das pessoas dá muita importância para o dinheiro! Muito bom. Parabéns *-*

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