segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

fui promovida


E então, os fogos de artifício anunciam que o ano novo está presente. Sentados ali, vendo aquele lindo espetáculo de luzes coloridas, que iluminamvam não só a minha última noite do ano, mas a primeira de um ano novo. Estávamos ali, sentados, nós dois, juntos. Tínhamos o costume de se beijar quando o relógio marcasse meia noite, e assim estivesse anunciando um novo ano. Ocorreu assim durante os três reveillons que passamos juntos, e ocorreria nesse também, mesmo sendo o nosso último. A gente se amava, e tínhamos diversos planos. Casar, morar juntos, construir uma família. Mas a vida exige que a gente siga caminhos diferentes. É inevitável. Por mais que eu o amasse mais que tudo nessa vida, eu não podia desperdiçar a oportunidade de jogar vôlei na Itália. Era algo irrecusável, assim como ele não podia desperdiçar a oportunidade de iniciar a carreira de fotógrafo pela qual ele tanto havia estudado e se dedicado. Ele insistia em ir comigo, mas tudo que ele havia conquistado estava aqui. Não podia ser egoísta. Principalmente com ele.

Resolvemos então que passaríamos o dia da virada juntos, e essa seria nossa despedida. A gente ia continuar namorando, mas com certeza não seria a mesma coisa. Eu tinha medo de que não desse certo. Tinha medo que ele encontrasse outra menina aqui, que se apaixonasse. Tinha muitos medos, mas já havíamos chorado, conversado, e tudo já estava decidido.

- Vamos esperar que seja um bom ano - ele disse ao meu ouvido, quando os fogos ocuparam todo o céu. Nos beijamos. E que beijo era aquele. Eu ficava louca. Era algo agressivo e carinhoso ao mesmo tempo. Suas mãos ao redor do meu cabelo e seus lábios encostando aos meus. Que momento mágico. Com certeza eu levaria aquele dia na memória, para o resto da minha vida. Apesar de estar feliz ali, naquela hora, o aperto no coração ia aumentando. Eu sabia que em poucas horas a gente teria que se despedir. Esperava eu que fosse um até logo, e não um adeus.

No primeiro dia do ano, estava eu, no aeroporto, quase desistindo de tudo. Eu não queria deixar ele pra trás. Ele havia sido a melhor coisa que acontecera em minha vida. Eu o amava de uma forma que nunca havia amado ninguém antes.

- Vôo 157, última chamada.

Era o meu. Nos abraçamos, e pedi que ele me esperasse.

-Com certeza. Eu estarei aqui, todo pra você. Eu te amo. Mande notícias.
E demos nosso último beijo antes de minha partida. Entrei no avião, tomei cinco comprimidos para dormir. Se eu estivesse acordada ao longo do vôo, pensaria nele, e choraria. Eu estava indo em busca do meu sonho, no futuro ficaríamos juntos. Não queria mais chorar.

Quando cheguei no aeroporto de Roma, vi ele. De costas, me esperando. Sai correndo, com lágrimas nos olhos. Era ele. Ele veio me buscar, ficar comigo. Não aguentou de saudades. Viveríamos aqui, juntos. Melhor surpresa impossível. Abracei ele com toda a minha força, e quando ele se virou... Não era ele. Pedi desculpas, e nem tive tempo de ficar com vergonha. A dor em meu peito era maior do que tudo naquele momento. Eu estava louca. Via ele em cada pessoa que passava por mim.

Segui para o hotel, e o time estava todo lá. Eu ainda estava sob o efeito dos comprimidos, e por isso pouco prestei atenção na apresentação que o técnico estava fazendo.

Os dias passaram, nos falávamos por cartas, emails, telefone. Mas não era igual. E eu sabia que não seria.

Começamos a treinar. Aqueles momentos dentro da quadra eram os únicos em que eu conseguia me concentrar em outra coisa. O campeonato começou, e fui levando a vida. Nosso contato foi diminuindo a cada dia, afinal, ambos estávamos muito ocupados.

O ano estava melhorando. Fui conhecendo gente nova, e estávamos indo muito bem no campeonato. Havia conquistado a vaga de titular no time, e tudo estava se encaixando, quando recebi um email dele, dizendo que queria terminar tudo. Ele se lamentava, mas dizia que era para o nosso bem. Nossas vidas estavam sendo formadas em outros lugares. Estavam seguindo caminhos diferentes. Não podíamos nos prender a alguém, que não sabíamos quando veríamos novamente, ele dizia. E ele estava certo. Por mais que não quisesse acreditar naquilo tudo, ele estava certo. Terminamos.

É, como ele havia me dito em minha despedida, o ano não estava de todo ruim. Nós havíamos optado por seguir e lutar pelo nosso sonho profissional, e nós dois estávamos alcançando nossos objetivos. Não um ao lado do outro, mas estávamos conseguindo. É, a vida é assim mesmo. E agora eu entendia o famoso ditado que todos me diziam: quando sua vida social estiver uma fumaça é porque será promovido.

(47ª edição conto/história : 3º lugar - nota 9,05, 49ª edição visual e 49ª edição musical: 6º lugar - Nota 9,5- Projeto Bloínquês)

Um comentário:

  1. Só passando para avisar que tem um selinho lá no blog, e uma mensagem de ano Novo adiantado. Beijos, um prospero ano novo! Se cuida.

    http://vouvivendoavidalevemente.blogspot.com/2010/12/papai-noel-deixou-meu-presente-de-natal.html

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