domingo, 19 de dezembro de 2010

pelo menos ali


Não aguentava mais. Todos me criticavam por eu ser diferente. Desde pequeno meus pais me educaram muito bem. Ensinaram-me que beber e fumar fazia mal, e por isso, nunca o fiz. Ensinaram-me a ter respeito pelos outros, por mais que não os conheça, e isso eu sempre tive. Ensinaram-me a não ter preconceito. A pedir por favor. A dizer obrigado. Mas amar, ninguém ensina. Isso é algo que se aprende ao longo da vida, sozinho. Só se aprende amando. Sentindo aquela maravilhosa sensação que é estar ao lado da pessoa amada. Receber um beijo, um abraço dela. Olhar para ela, mesmo que ela esteja dormindo. A gente não escolhe por quem vai se apaixonar, e eu acabei me apaixonando pelo meu melhor amigo. No início, preferimos viver um romance escondido, com medo. Não do preconceito que enfrentaríamos, afinal sabíamos que esse tipo de sentimento vem de pessoas ignorantes, mas de não saber reagir a ele. Enfim, depois de muito tempo juntos, eu cansei. Cansei de ter que ver ele por poucas horas, só para que ninguém descobrisse a gente. Cansei de não poder chamar ele de amor na frente dos outros. Amar é um sentimento maravilhoso, e não é porque amamos alguém de mesmo sexo que não devemos demonstrar e aproveitar. Resolvemos então começar contando aos nossos pais, afinal, acreditávamos que eles nos apoiariam. Estávamos enganados. Quer dizer, em parte. Os pais deles aceitaram na boa, nos incentivaram. Disseram que o que importava era ver o filho deles feliz. Assim, criei mais confiança para contar aos meus. Mas de nada adiantou. Eles não acreditaram, acharam que era algum tipo de brincadeira. Disse que aquilo era um absurdo, que homem foi feito para amar mulher. Queriam me proibir de o ver. Eu não conseguia escutar aquilo sem chorar. Não eram lágrimas de tristeza, e sim de raiva. Como alguém pode tentar estragar um amor só porque ele não é da forma que a sociedade estabeleceu como padrão? Comecei a ficar mais distante da minha família, já que o ódio estava tomando conta de mim. Numa tarde minha mãe entrou em meu quarto para conversar comigo.
- Filho, entende. Foi uma surpresa para nós. Não era isso que a gente esperava... Você podia tentar ter um relacionamento com uma menina né? Sempre gostou disso. A Ju, ela te adora. A Fernanda tamb
ém...
-Mãe!
Você nunca mudará o que aconteceu! Eu amo ele, eu quero namorar ele, é com ele que quero viver. Vocês aceitando isso ou não.
Ela saiu do quarto, com lágrimas nos olhos.

Para mim já havia chegado no limite. Eu queria viver com ele, e em casa isso não seria possível. Então, naquela mesma tarde, resolvi sair de casa, sem que meus pais vissem. Subi para o porão e fugi pela
janela. Desci o telhado, tentando não fazer barulho. Peguei um ônibus e fui para a casa dele. Seus pais me receberam super bem, e conversaram comigo. Tentaram fazer eu entender meus pais, mas nada que ninguém me falasse iria me fazer aceitar a insatisfação deles. Corri para o quarto dele, e o abracei e beijei muito. Finalmente poderíamos se amar sem receber críticas, sem sermos impedidos. Pelo menos ali, naquele quarto, naquela casa isso seria possível.
Essa hora meus pais devem estar percebendo que não estou em casa, mas é tarde demais para eu perdoar eles e volta
r. Assim que der, trago minhas coisas para cá, para viver com ele, com a pessoa que eu amo.
(48ª edição musical e 48ª edição visual - Projeto Bloínquês)
(3º lugar: edição musical - nota 9,83 - Criatividade: 10 Ortografia: 9,6 Tema: 9,9)

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