segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

se for um sonho

Fazia três meses que havíamos descoberto a minha doença. Era algo raro, nem me lembro direito o nome. Só me lembro que tive que ficar no hospital durante muito tempo. Era algo entediante, já que só o que eu tinha para fazer era ver televisão, ouvir rádio, ler jornal e fazer minha revistinha de palavras cruzadas. Havia tempos que não via meus amigos, que não jogava bola, que não pulava corda. Estava começando a entrar em depressão, achava que ninguém gostava de mim, afinal não recebia nenhuma visita. Mais tarde fui descobrir que era proibido, mas que todos os meus amigos sempre ligavam para o hospital para saber o meu estado. Alguns ficavam ali na porta, sentados, só para receber alguma notícia sobre o grau da minha doença, para saber se eu conseguiria sobreviver. Enfim, o que aconteceu foi que minha mãe chegou para mim, um mês após a minha longa estadia naquele quarto branco e depressivo, e disse que a doença estava piorando, que só se acontecesse um milagre eu conseguiria ficar viva sem sequelas. Por mais que ela estivesse contando-me isso da maneira mais carinhosa, mais gentil possível, suas palavras rasgaram meu peito. Berrei, chorei, e quase me matei, afinal, só estaria antecipando a minha morte.

Troquei de quarto, e passei por diversar cirurgias logo após a minha tentativa de suicídio. Fiquei no soro durante muito tempo, já que me recusava a ingerir qualquer tipo de alimento sólido ou líquido. Eu não queria mais dar trabalho para ninguém, não queria que as pessoas tivessem pena de mim. Eu queria morrer.

Até que mais um mês se passou, e minha mãe entrou no quarto novamente, com a mesma expressão de sempre. Para mim, ela estava vindo se despedir, eu iria morrer, a doença havia tomado conta de mim. Ao invés disso, ela disse:"Filha, você está curada!". O sorriso em seus lábios tocou meu coração, mas eu não conseguia acreditar. "Tive uma conversa com o doutor, e ele me contou.", disse ela, com a expressão feliz, porém exausta, afinal, ela não saíra do meu lado nenhum minuto. "Você tem certeza que foi real? Pode ter sido apenas um sonho. Mãe, o doutor disse isso mesmo? Eu vou poder sair desse quarto, jogar bola, viver novamente?". Ficamos ali, juntas, comemorando, até que finalmente eu acordei. Tudo não havia passado de um sonho meu. É, não tinha jeito, eu iria morrer.

Na manhã seguinte eu já estava preparando em minha mente todo o discurso que iria dizer pra minha mãe, me despedindo, agradecendo. De repente, uma grande batida na porta me tirou de meus pensamentos. Entraram todos os meus amigos com balões, balas, bolos, chocolates. Todos eles comemoravam, e em seguida entrou o médico com minha mãe. Eles me disseram que eu estava curada, e que em poucos dias eu poderia voltar pra casa. A minha felicidade foi imensa, não tenho nem palavras para explicá-la.

Hoje, já mais velha, trabalhando como médica nesse hospital, curando pessoas que acreditavam que a vida estava no fim, assim com um dia eu acreditei, continuo sem saber se estou vivendo num sonho, ou na minha própria vida real. Se me curei de fato, ou se a qualquer momento vou acordar naquela cama de hospital. Eu continuo sem saber, mas vou vivendo. Se for um sonho, que seja o mais belo de todos antes de minha morte.

(45ª edição conto/história- Projeto Bloínquês - 2º lugar: – 9,16)

2 comentários:

  1. Ounwtiii, que conto emocionante *_*.Me fez chorar,really <3

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    Ammei seus textos por aqui.Escreve muuito bem e com o coração :)


    beeijão!

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