quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

tarde demais


Era uma tarde de inverno, e a neve lá fora alcançava nossos joelhos. Por um lado era bom, não iria para a escola. por outro, tédio. Ficaria em casa, com frio, sem poder andar na rua. Deitei em minha cama, peguei um livro, e comecei a ler. Algo estranho me aconteçeu. Uma dor forte no coração quando eu li a palavra pai... Não entendi porque aquilo estava acontecendo. Eu já estava acostumada em não ter o meu pai ao meu lado todos os dias. Já estava acostumada em não ter ele nas reuniões de pais, nas apresentações, nas minhas festas. Porque será que naquele dia, ao ler aquela palavra, a dor que eu sentia era daquele tamanho? Já que estávamos sozinhos em casa, resolvi ir até seu escritório, e perguntar o porque daquilo tudo. Sempre tive vontade de fazer isso, mas o medo e a vergonha funcionavam como um freio. Ali, com aquela dor, deixaria esses sentimentos de lado. -Pai... -Entrei em seu escritório, meio tímida, porém, decidida a entender de uma vez por todas o que eu nunca havia entendido.
- Estou trabalhando filha. Podemos conversar depois? - disse ele, sem tirar os olhos da tela do computador.
Estava dando meia volta e indo embora, quando veio em minha mente a dor que eu senti ao ler aquela palavra. -Não, não pode. Você nunca tem tempo pra mim. Você nunca foi a uma festa minha de aviversário, nunca esteve presente em nenhuma reunião da minha escola, e o pior de tudo; nunca me deu um abraço que me passasse amor, carinho. Nunca sentou e jogou um jogo comigo. Nunca me leu uma história para dormir, ou fez chocolate quente para mim. Nunca foi meu pai. Porque você faz isso? Eu posso não ser a filha que você sempre sonhou, mas sou sua filha. Não acha que eu mereça carinho, atenção, amor? Ele estava indiferente. Achei que após tantos anos calada, essa atitude o surpreenderia, e ele pudesse me explicar, e até mesmo mudar. - Estou trabalhando filha, conversamos depois. Aquela palavras não passaram na minha garganta. Desliguei o computador dele, joguei o telefone no chão, e sentei em sua mesa, em frente a ele, olhando em seus olhos. -Depois pode ser tarde demais pai... Ou melhor, depois pode ser tarde demais, estranho.. Sai de seu escritório, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Subi para o meu quarto, peguei minhas coisas, e fui embora. Lá fora, o frio era imenso, a dificuldade de andar também. Mas nada era maior do que a dor que meu coração estava sentindo. Nada era maior que isso.

6 comentários:

  1. Nem me imagino sem meu pai.
    Meu maior amigo!

    ResponderExcluir
  2. acho q se todos tivessemos a coragem dessa menina, que enfrentou todos os medos, o mundo estaria bem melhor ....

    ResponderExcluir
  3. Não me imagino sem ter meu pai ao meu lado, mesmo tendo nossas brigas e não concordando com grandes coisas...nós nos damos bem, na medida do possivel, e ele sempre esta comigo quando eu preciso!
    Lindo teu blog

    ResponderExcluir
  4. Poxa que intenso...
    Acho que as vezes agente reclama dos nossos pais, mas deve ser difícil pra caramba viver assim... por que na realidade tantas reclamações e broncas é uma forma de mostrar que eles se importam, nê?!

    Belo post!=*

    ResponderExcluir
  5. Que texto lindo ...
    Cada palavra que você escreve é tão bem colocada.
    Parabéns!

    ResponderExcluir
  6. Eu tenho sorte de ter o pai que tenho, porque muitas amigas minhas passam por isso que você falou.

    Adorei o texto, mesmo sendo triste. Beijos :*

    ResponderExcluir